Goo Goo Dolls estreia no Brasil longe dos holofotes: "Tocar no rádio não nos preocupa"

InterviewSeptember 24, 2019UOL

Demorou 32 anos --21 desde o estouro global com a música Iris-- para o Goo Goo Dolls enfim agendar um show no Brasil. Atração de abertura do Bon Jovi, a banda já se apresentou em Recife neste fim de semana e amanhã tocará em São Paulo. O giro de estreia pelo país também inclui show em Curitiba, na próxima sexta, e um encerramento de gala com apresentação no palco principal do Rock in Rio no próximo domingo (29), segundo dia de festival.

O culpado pela ausência? A exemplo de outros artistas em situação semelhante, o líder da banda, Johnny Rzeznik, aponta o mal gerenciamento das atividades do Goo Goo Dolls. "Agora estamos com um novo agente, depois de um longo tempo", explica o vocalista ao UOL, por telefone, demonstrando alívio. "Nós também estávamos nos perguntando: como nunca havíamos ido a lugares como o Brasil?"

O sucesso massivo do Goo Goo Dolls no país e em várias outras partes do mundo ocorreu no fim dos anos 1990, quando já tinha uma década de estrada, mas nem por isso o grupo se preocupa em viver só de nostalgia. 70% do repertório atual abarca faixas lançadas a partir de 2002, depois do álbum Dizzy Up the Girl (1998), que vendeu mais de 4 milhões de cópias nos EUA e transformou em celebridades três ex-punks que não muitos anos antes se apresentavam em bares em troca de cerveja.

"Quando lançamos nossos dois primeiros discos, éramos meninos tentando se divertir com música. Nós queríamos apenas gravar discos. E não conseguimos fazer nada acontecer", diz Rzeznik, que decidiu então mudar a sonoridade da banda. "Comecei a pensar diferente. Nesse processo, a música começou a sair na diferente também. Eu pensei: 'OK, essa é minha revolução'."

UOL - Por que vocês demoraram tanto tempo a vir para o Brasil, onde vocês dominaram as rádios no fim dos anos 1990?

Johnny Rzeznik - Ficamos muito tempo nas mãos do nosso agente. Agora estamos com um novo, depois de um longo tempo. Também ficávamos nos perguntando: como nós nunca fomos em lugares como o Brasil? Acho que finalmente encontramos alguém realmente bom para esse trabalho.

Vocês farão shows em estádios e terminarão no Rock in Rio. O que esperar de uma estreia tão grandiosa?

É empolgante ser uma banda americana e vir ao Brasil pela primeira vez, ainda mais tocando no Rock in Rio. Acho que será bem divertido. E também uma responsabilidade. Tivemos que trabalhar duro nesse show (risos). Espero conseguir me conectar com o público, e, quem sabe, voltar mais vezes.

Vocês começaram tocando punk e rock de garagem, mas com os anos foram substituindo o peso por violões e pop rock radiofônico. Por que fizeram isso?

Quando lançamos nossos dois primeiros discos, éramos meninos tentando se divertir com música. Queríamos apenas gravar discos. E não conseguimos fazer nada acontecer. Nessa época, nosso maior objetivo era encher os bares com nossos amigos e beber de graça. Essa, inclusive, era a forma como nos pagavam, com bebida (risos).

A idade trouxe sabedoria?

Nós envelhecemos. Aprendi como começar de fato uma carreira. Comecei a pensar diferente. Nesse processo, a música começou a sair na diferente também. Pensei: "OK, essa é minha revolução". Os fãs entenderam a mudança, mas houve quem reclamasse. A verdade é que existem pessoas que têm a tendência a resistir a qualquer tipo de crescimento. Não é nosso caso.

Vocês fizeram uma turnê de 20 anos do disco Dizzy Up the Girl e agora decidiram focar em músicas dos anos 2000 nos shows. Por quê?

Tivemos bons hits nos anos 1990, mas também tivemos hits nos anos 2000. Acho que as pessoas nos associam à década de 1990 porque nosso maior sucesso aconteceu em 1998. Para nós, foi ótimo, mas tivemos outros hits desde então. Também é importante ressaltar que muita coisa mudou. O rádio mudou muito nos Estados Unidos. E estar tocando no rádio não é algo que nos preocupa hoje em dia.

Iris, trilha do filme Cidade dos Anjos, é um dos grandes sucessos da segunda metade dos anos 1990 e até hoje rende dinheiro a vocês. Como foi criar essa mina de ouro?

Fomos ao escritório do supervisor musical do filme e assistimos ao filme. Ele então pediu para compormos algo. Para mim, ela saiu de um jeito natural. Nessa época, eu estava vivendo em um hotel, então tinha um pouco do entendimento da solidão do personagem [o anjo vivido por Nicolas Cage que se transforma em humano]. Refleti sobre o filme e tentei compor pela perspectiva dele. Eu me perguntei se abriria mão da imortalidade para estar com aquela pessoa [a personagem de Meg Ryan]. O que eu faria se estivesse na posição dele. Foi assim que surgiu a letra.

O que você fez com dinheiro que ganhou com a música. Deu pra comprar uma casinha?

Deu (risos). Eu comprei, mas a maioria do dinheiro foi para o banco. Foi benção enorme ter feito uma música como. Sinto que aqui nos Estados Unidos a música ainda é relevante. Essa é uma daquelas músicas que quebram barreiras, que vão muito além do que você espera.

Eu amo a participação do Goo Goo Dolls no Vila Sésamo. Pra mim, entraria facilmente na lista de vídeos mais fofos da história da internet. Como foi gravar aquilo?

Foi uma das coisas mais divertidas e legais que já tive a chance de fazer. Além disso, eu pude conhecer os personagens que cresci vendo na TV. Era um pouco estranho porque havia um cara com sua mão para cima, meio de lado, e de repente o Elmo estava falando comigo. E eu, conversando normalmente com um boneco.

É incrível o quão você é rapidamente sugado por essa experiência. Porque aqueles bonecos se tornam muito reais. Naquele dia, eu pude sentar nos degraus do cenário do Vila Sésamo. Eu me senti como se fosse criança de novo.

O programa transformou sua música Slide (algo como "deixe rolar") em Pride ("orgulho"), no quadro em que o personagem Elmo ensinava o significado das palavras. Quem fez aquela letra maravilhosa?

(risos) Nós gravamos a música, mas a letra foi feita pela própria equipe do Vila Sésamo. Nós adoramos o resultado. Ficou demais. Muitíssimo inteligente.

São Paulo (abertura para Bon Jovi)
Quando: amanhã (25)
Local: Allianz Parque (av. Francisco Matarazzo, 1705 - Água Branca)
Ingressos: esgotados

Curitiba
Quando: sexta (27)
Local: Pedreira Paulo Leminski (Parque das Pedreiras - R. João Gava, 970 - Abranches)
Ingressos: de R$ 270 a R$ 920

Rio de Janeiro (Rock in Rio)
Quando: próximo domingo (29)
Local: Parque Olímpico (Av. Embaixador Abelardo Bueno, 3401/40 - Barra da Tijuca)
Ingressos: esgotados

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